Na mesma semana em que o Banco BMC anunciou sua venda para o Bradesco, seis bancos médios divulgaram os balanços de 2006, mostrando margens comprimidas e operações de crédito crescendo o dobro do que o patrimônio e mais até que os depósitos. Ao avaliar esses dados, o presidente da consultoria Austin Ratings, Erivelto Rodrigues, conclui que o principal desafio dos bancos médios "é fortalecer o capital e a estrutura de funding". Caso contrário, instituições "com expertise em um segmento tenderão a ser incorporadas por outras".
"Nossa avaliação não mudou. Acreditamos que a consolidação do sistema financeiro vai continuar", afirmou a analista da Fitch Ratings, Maria Rita Gonçalves, lembrando que já houve a onda da venda de operações de financiamento de veículos e ao consumo. Ponderou ainda que, como quase todos bancos médios têm controle familiar, a decisão de vender passa muitas vezes por questões particulares como sucessão, além do preço e da oportunidade de negócio. Maria Rita concorda com Rodrigues ao afirmar que, em um cenário de maior pressão de margem e expansão do mercado, "os bancos precisarão focar mais na eficiência, escala e adequação da liquidez".
O resultado dos seis bancos médios, consolidado pela Austin Ratings, mostra uma queda de 16% no lucro líquido, de R$ 612,1 milhões para R$ 513,7 milhões, mas a conta é influenciada pelos números do BMG, cujo lucro líquido caiu 31,9%; e, em menor escala, pelo Pine, que registrou uma diminuição de 7,7%. No Sofisa, o resultado ficou praticamente estável. Os outros três bancos aumentaram o lucro: o BRP, em 43,3%; BicBanco, em 26,8%; e o Industrial, em 23%. Em conseqüência do aumento da competição, a rentabilidade também recuou, de 30,5% em 2005 para 21,3% em 2006. Dos seis bancos, apenas metade aumentou o retorno: Bic, Industrial e BRP.
Os balanços reunidos pela Austin Ratings também mostram que os depósitos totais e os patrimônios cresceram, mas em ritmo inferior ao da expansão das carteiras. Os bancos médios, segundo Rodrigues, já se "reinventaram" em termos de funding, após a crise de liquidez de 2005, quando os investidores institucionais se retraíram com a quebra do Banco Santos. A primeira saída foi a onda da cessão de carteiras de crédito. Foi essa política, lembrou Rodrigues, que alavancou os resultados do BMG em 2005. A cessão de carteira permite ao banco antecipar os resultados que seriam obtidos ao longo do tempo de vida do contrato da operação de crédito.
Como no ano passado o BMG teve maior acesso a outras fontes de recursos, reduziu o volume de cessões. A nova política causou a diminuição do lucro, apesar da carteira de crédito do banco ter crescimento 56,5%. O BMG e os outros bancos médios passaram a captar recursos no exterior - inclusive na forma de dívida subordinada, que reforça o patrimônio de referência - e no mercado interno com a emissão de fundos de investimento de direito creditório (FDICs). Apesar disso, segundo Rodrigues, persiste o desafio.
No caso dos FDICs, a taxa não pode passar dos 110% do CDI, "senão o custo do funding fica muito caro para repassar". A mudança de regra de contabilização das cessões de carteira, esperada para este ano mas ainda não confirmada, pode complicar mais a situação. Pelo que se especula, as operações cedidas com coobrigação terão peso 100% para efeito de cálculo do capital mínimo na nova regra e não mais os 50% atuais; e o ganho não poderá ser antecipado.
Do lado do comprador, o risco será o banco cedente e não mais as operações cedidas. Para Rodrigues, está na hora de o Banco Central reduzir a exigência mínima de capitalização dos bancos de 11%. A regra da Basiléia prevê 8%. Mas o Brasil elevou o índice para 10% inicialmente e depois para 11%. "Agora os bancos brasileiros estão sólidos", disse o presidente da Austin Ratings.
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