terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

O Risco CHINA


Por : Sérgio Abranches
Não será a última vez que a China derrubará o mercado global. O risco-China sempre foi alto. O país não conta com um marco contratual estável, nem seguro. Os desequilíbrios econômicos e sociais são muitos e muito fortes. A produtividade do capital é baixa, para uma taxa de investimento altíssima.
Parte considerável da poupança chinesa é imposta sob a forma de salários aviltantes e exclusão de grandes massas dos mercados mais dinâmicos e mais bem remunerados do país. A tensão social é elevada. O risco político é alto. A China é um país autocrático, no qual os mandatários decidem de forma oligárquica e fechada e sempre enfrentam oposições e pressões quase invisíveis para os agentes externos. O grau de discricionariedade nas decisões é máximo. O país não tem instituições firmes. As mais fortes são aquelas que regulam os procedimentos do Partido Comunista e do Comitê Central.
O passivo ambiental é elevadíssimo e crescente.Parte considerável do risco-China é compensada pela escala monumental do país e pela magnitude e rapidez dos ganhos. Mas esses dois fatores geram, também, potencial significativo de desequilíbrios futuros. As reformas institucionais chinesas certamente não avançam no mesmo ritmo que sua economia e o volume de investimentos. Enquanto esse mecanismo de compensação dos risco político por volume e liquidez é suficientemente eficaz, o mercado é complacente com os riscos e tende a supervalorizar os avanços institucionais insuficientes, às vezes mais declaratórios que efetivos. Com o tempo, a compensação se tornará cada vez menos eficaz e o lado negativo do cenário emergirá com maior nitidez.
É mais provável que a máquina chinesa trave com esses desequilíbrios, tensões e com o avanço incontrolável da poluição, da contaminação das águas, da chuva ácida, da desertificação e conseqüentes perda de área e produtividade agrícola, aumento do gargalo energético, de recursos naturais e insumos em geral e crescimento dos gastos com saúde e controle ambiental.
É menos provável que a China enfrente, com sucesso, no tempo necessário, todos os desafios institucionais, sociais e ambientais que apontam para uma crise futura.Os custos do autoritarismo e da exclusão social são altos, assim como os custos ambientais e, mais cedo ou mais tarde, serão descontados da taxa de progresso material e financeiro.Governos autoritários, diante de riscos internos iminentes, desconsideram os riscos externos e tomam decisões discricionárias e violentas, sem consulta ou sinalização.
Por isso a China não deixará de surpreender no curto e médio prazo. Novos abalos, por razões reais ou expectacionais, são muito prováveis de ocorrer. O risco real, em algum momento, começará a vazar para o risco percebido, aumentando a sensibilidade dos mercados ao volume de ameaças contidas no processo chinês.

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