O mercado brasileiro vive um momento atípico, em que a bolsa sobe junto com a volatilidade. Levantamento feito pelo chefe do Departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ e sócio da Plenus Gestão de Recursos, Alexandre Espírito Santo, revela que, desde 2002, quando o mercado passou a ter certa normalidade após tantas crises econômicas, a bolsa vem seguindo o mesmo tipo de comportamento. Quando o Índice Bovespa sobe, a volatilidade cai, e quando o índice se desvaloriza, a oscilação aumenta.
Espírito Santo considerou no estudo períodos em que o Ibovespa subiu ou caiu pelo menos 15%. A partir daí, analisou esse período até o momento em que o índice mudou de tendência. Além do momento atual, o Ibovespa e a sua volatilidade andaram na mesma direção somente entre janeiro e março de 2005. Naqueles três meses, o índice subiu 18,06% e a volatilidade, medida em 100 dias e em termos anualizados, subiu de 19% para 22%. Já no momento atual de valorização da bolsa, que começou em 16 de agosto, o Ibovespa já subiu 34,6% e a sua volatilidade saltou de 22% para 30%.
A correlação negativa entre o Ibovespa e a volatilidade (um sobe enquanto o outro cai) tem explicação. Quando as ações estão numa tendência de alta, as pessoas ficam confiantes e investem no mercado por mais tempo, fazendo com que a volatilidade caia, analisa Espírito Santo. Já em momentos de queda, os investidores ficam mais confusos. Alguns preferem vender as ações para não ter maiores perdas. Outros aproveitam a queda para comprar os papéis a preços mais baixos. Esse entra e sai acaba provocando maior volatilidade, lembra o professor. De forma geral, esse comportamento padrão também costuma ocorrer nas bolsas de outros países, diz Espírito Santo.
Para ele, a correlação atípica no mercado local é sinal de que algo está errado no movimento atual de valorização da bolsa. "Acredito que é hora de os investidores acenderem todas as luzes amarelas possíveis, pois, em algum momento, algo irá mudar para que a correlação volte ao normal", diz. E, na opinião do professor, é a alta da bolsa que deve chegar ao fim, impulsionada pela deterioração do cenário internacional.
"Se a crise hipotecária americana for grave como está se delineando e a economia dos EUA desacelerar fortemente, não acredito que os emergentes passarão ilesos, como muitos têm esperança", diz Espírito Santo. O fato de a crise hipotecária e seus reflexos nos EUA terem voltado à baila nos últimos dias pode ser um sinal de que a festa da bolsa está próxima do fim. "Esse mercado esquizofrênico, em que o Ibovespa cai mais de 4% num dia e sobe 2% no seguinte, também mostra como os investidores estão perdidos, sem saber o que vem pela frente", diz.
O sócio da Modal Asset Management Alexandre Póvoa pondera que, desde 2002, a volatilidade caiu gradativamente porque a bolsa, desde então, veio numa forte valorização. "Sempre que há uma forte tendência de alta ou de queda, a volatilidade fica em segundo plano", diz Póvoa. Para ele, o momento é preocupante e o executivo acredita que a lua-de-mel do mercado depende principalmente de quanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) conseguirá baixar os juros. "O momento é de surfar na onda de alta da bolsa, mas com moderação."
Ontem, novos anúncios de perdas de bancos derrubaram as bolsas no exterior. Nos EUA, o S&P 500 caiu mais de 1%, o que pode se refletir na Bovespa hoje.
Daniele Camba é repórter de Investimentos
E-mail: daniele.camba@valor.com.br
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