quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Bancos Estrangeiros

Comissão de valores mobiliários obriga instituições a declarar real valor de títulos hipotecários

Patrícia Campos Mello - Folha

Na semana passada, os presidentes de dois dos maiores bancos do mundo, Citigroup e Merrill Lynch, perderam o emprego no rastro da crise de crédito das hipotecas imobiliárias americanas do subprime. Foi só o começo.
Os grandes bancos americanos ainda estão sentados em cima de perdas estimadas entre US$ 20 bilhões a US$ 60 bilhões, que devem ser anunciadas até o fim do ano. Esse é o valor dos investimentos em títulos lastreados em hipotecas e outras dívidas arriscadas que deverão ser 'marcados a mercado', ou seja, ter seu valor contábil ajustado ao valor real de mercado.
Como grande parte das hipotecas que garantem esses títulos não valem nada, porque não vão ser pagas, o valor de muitos desses papéis é zero, porque ninguém em sã consciência vai querer comprá-los.Até agora, os bancos vinham 'escondendo' grande parte de suas perdas com créditos arriscados por meio de uma manobra contábil.
A maioria desses papéis exóticos (ou tóxicos, como são chamados agora) não são líquidos, ou seja, não trocam de mãos freqüentemente.Por isso, eles entravam no chamado nível três nos balanços e tinham seu valor estimado por modelos matemáticos, em vez de ter seu valor determinado no mercado, como acontece com ações de empresas.
A prática se tornou indiscriminada, e vários bancos passaram a pôr bilhões de dólares em títulos no buraco negro do nível 3, como forma de não registrar a perda de valor desses papéis.Mas a SEC, a comissão de valores mobiliários americanos, vai acabar com essa festa.
A partir de quinta-feira, esses papéis tóxicos precisarão ter seu valor de mercado registrado nos balanços e não apenas o valor estimado em modelos matemáticos. 'Aí é que vamos ver o real valor das perdas dos bancos', diz um analista do mercado.Juntos , Citigroup, Merrill Lynch e Morgan Stanley registraram US$ 24 bilhões em perdas até agora. Mas a temporada de baixas contábeis está só começando.
De acordo com levantamentos da consultoria CreditSights e do Deutsche Bank, a Merrill Lynch ainda vai anunciar cerca de US$ 9 bilhões em perdas e o Citigroup deve ter mais US$ 5,5 bilhões em baixas contábeis. Outros bancos também vão entrar na dança - JP Morgan (US$ 4 bilhões), Goldman Sachs (US$ 5 bilhões), Morgan Stanley (US$ 4 bilhões), Bank of America (US$ 5,5 bilhões), entre eles. A perda total pode chegar a 30% do mercado subprime, avaliado em US$ 190 bilhões.
'As perdas que as instituições já reconheceram são apenas a ponta do iceberg', diz o economista Nouriel Roubini, ex-conselheiro do Tesouro americano e presidente da RGE Monitor, em seu blog.Em seu mais recente relatório, a consultoria CreditSights rebaixou a recomendação para os bancos Bear Stearns e Lehman Brothers por causa do impacto de suas perdas, e para o Morgan Stanley, por causa do grande volume de papéis no chamado 'nível 3'.
'Até bancos que raramente mencionavam exposição a títulos lastreados em hipotecas ou garantiam a solidez de seus investimentos em subprime estão registrando grandes perdas', diz o economista Richard Hoffman. 'É difícil avaliar de quanto serão as perdas.'A falta de transparência está no centro da crise de crédito.
A SEC está investigando os métodos de avaliação de papéis usados por vários bancos, entre eles o Citigroup e a Merrill Lynch. No mercado, ainda há papéis lastreados em hipoteca no valor de cerca de US$ 1 trilhão, além de centenas de bilhões de dólares dos chamados títulos CDOs ligados a hipotecas.
'Há uma perda de confiança, porque é difícil determinar o valor dos títulos ligados a hipotecas que os bancos têm em suas carteiras', diz Philippe Darvisenet, economista-chefe global do BNP Paribas. 'Se eles tiverem de registrar tudo isso a preço de banana em seus balanços, será um enorme impacto.'

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