terça-feira, 16 de novembro de 2010

A redenção das teorias de análise gráfica

Fonte: Valor Econômico

Jonathan Davis | Financial Times
12/11/2010

Três anos atrás, observei que a Teoria Dow (sobre os movimentos dos preços das ações) forneceu importante sinal técnico em 23 de novembro de 2007, indicando que o mercado de ações dos EUA havia entrado numa "tendência básica de queda".

Embora o mercado de ações estivesse parecendo temporariamente vendido demais, sugeri que o que ele dava a entender, se você acreditava nessas coisas, é que "os investidores deveriam se preparar para um mercado cuja tendência daqui para frente será de queda, e não de alta."

Bem, ela acabou não sendo uma aposta ruim, uma vez que posteriormente o índice Dow Jones caiu 50% até o ponto mais baixo registrado em março de 2009, e até a semana passada ainda era negociado 15% abaixo do nível da ocasião em que o sinal foi dado. Se fazer previsões de
mercado fosse meu único negócio, e não uma atividade secundária, eu agora estaria alardeando minha surpreendente retrospectiva de acertos.

Acontece que, embora os sinais técnicos fossem uma das coisas que me deixavam cauteloso com os mercados de ações no fim de 2007, na verdade minha posição pessimista era motivada pela experiência e por coisas negativas que eu estava ouvindo (incluindo banqueiros centrais que
admitiam, em particular, não acreditar que poderiam conter a escalada da crise bancária).

A honestidade também me exige admitir que a maior parte do que escrevi naquela ocasião não era sobre o crash do mercado que se aproximava, e sim referia-se a uma discussão sobre as análises técnicas e se elas tinham algum valor. Minha conclusão foi que elas se saíam melhor
quando interpretadas por participantes experientes do mercado. "Seu valor real", sugeri, "está na qualidade da interpretação, e em última instância isso é subjetivo, em vez de científico."

Bem, não mudo uma palavra daquela conclusão, mas é justo dizer que as análises técnicas estão tendo uma retomada em relação aos dias em que elas eram citadas na literatura acadêmica como pouco mais que charlatanismo. Em seu livro "A Random Walk Down Wall Street", de 1973, o professor Burton Malkiel desancou essas análises com uma conclusão contundente: "sob o olhar científico, a leitura de gráficos deve dividir um pedestal com a alquimia."

É claro que sabemos agora que esse passeio aleatório a que se refere o título do livro, e a eficiente hipótese de mercado a que ele está relacionado, apenas começavam a dominar a maneira como os acadêmicos pensavam os mercados. Nenhuma teoria parecia deixar espaço para as
análises técnicas, que claramente eram baseadas na suposição de que havia informações sobre os preços dos títulos que poderiam ser exploradas com fins lucrativos ou para evitar perdas.

O fato de tantos investidores continuarem até hoje a depender dos gráficos de preços para ajudar nas tomadas de decisões, sugere que o próprio mercado se recusa a aceitar que as análises técnicas podem ser tão facilmente refutadas. Elas continuam sendo a forma dominante nos
negócios com commodities e câmbio.

Sushil Wadhwani, um acadêmico que recentemente mudou para área de gerenciamento de investimentos, diz que superar o preconceito contra as análises técnicas foi a lição mais importante que ele teve que aprender quando desceu da "torre de marfim" para o laboratório da vida real, trabalhando com operador.

Conforme um novo livro de Andrew Lo e Jasmina Hasanhodzic, os últimos 20 anos viram o começo de uma importante reavaliação das análises técnicas, ao ponto em que não é mais aceitável classificá-las de inúteis. O professor Lo, um dos mais brilhantes da faculdade de
finanças do Massachusetts Institute of Technology (MIT), se esforçou tanto quanto qualquer outra pessoa para demolir a credibilidade da hipótese dos mercados eficientes, e embora longe da visão idealista sobre o que a análise técnica pode agora com justiça alegar que é,
conclui que ela é "uma disciplina legítima e útil, manchada por associações espúrias e que merece mais estudos acadêmicos."

Vários estudos acadêmicos recentes conseguiram testar as estratégias de negociação e encontraram espaço para potenciais lucros com elas. Outros usaram programações complexas para determinar, com base nos movimentos reais do mercado, estratégias que teriam funcionado. Com frequência, descobre-se que elas correspondem a fórmulas de gráficos
aparentemente simplistas, envolvendo médias em movimento.

A constatação mais intrigante, porém, é a evidência que os autores apresentam de que o olho humano á capaz de detectar padrões sofisticados e significativos nos gráficos de preços que até mesmo programas de computador mais sofisticados não conseguem. Eles mostram que os seres humanos podem distinguir sistematicamente entre gráficos sobre os retornos reais do mercado financeiro e aqueles criados aleatoriamente. Isso abre uma possibilidade intrigante do uso das
habilidades humanas de reconhecimento de padrões em relação a algoritmos criados por computador, elaborados para conter a inconsistência e o viés emocional a que os investidores também estão suscetíveis.

O mundo dos investimentos passou por uma transformação na última geração, mas é preciso concluir que o poder excepcional do cérebro humano de encontrar significado em padrões complexos persiste.

Investidores que leem gráficos de preços, em qualquer evento, não precisam mais pedir desculpas pelo seu estranho passatempo. (Tradução de Mario Zamarian)

Jonathan Davis colunista do Financial Times, investidor profissional e diretor das companhias de investimento Agrifirma Services Ltd and Victoria Capital

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