Quando eu ainda era garoto, ocasionalmente, após o dia de labuta cansativo em casa, minha mãe gostava de fazer um lanche reforçado, na hora do jantar...
E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de ter um dia de trabalho muito exaustivo...
Naquela noite, minha mãe colocou a mesa o Café com leite, alguns biscoitos, manteiga, geléia de morango, um omelete caprichado e ... torradas (cá pra nós bastante queimadas).
Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém também tinha reparado...
Tudo o que meu pai fez foi avançar na torrada, esparramar caprichosamente manteiga e geléia, sorrir para minha mãe e nos perguntar como tinha sido o nosso dia na escola.
Eu não me lembro do que respondemos, mas me lembro de ter olhado para ele se lambuzando e engolindo tudo, com uma expressão em sua face demonstrando satisfação e felicidade ímpares...
... e a família se empanturrou dos comes e bebes antes de começar o Jornal Nacional.
Quando me encaminhava para a cozinha ajudando a recolher os pratos, ouvi minha mãe se desculpando ao meu pai, por ter deixado as torradas queimarem, enquanto corria para recolher as roupas do varal no quintal...
E eu nunca esquecerei o que ele disse:
" - Adorei a torrada queimada..."
Terminada a novela, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado das torradas queimadas...
Ele me pediu que sentasse em sua cama, envolveu-me num forte abraço e sussurrou no meu ouvido:
" - Meu filho... sua mãe teve um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém.
A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas.
E eu também não sou o melhor marido, empregado, ou cozinheiro, talvez nem o melhor pai, mesmo que tente todos os dias!
O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.
Desde que eu e sua mãe nos unimos, aprendemos, os dois, a suprir as falhas do outro.
Eu sei cozinhar muito pouco, mas aprendi a deixar uma panela de alumínio brilhando.
Ela não sabe usar a furadeira, não tem habilidade com o martelo, sequer guarda forças para pilotar o cortador de grama, mas após minhas reformas aqui em casa, ela tem o dom de deixar tudo cheiroso, de tão limpo.
Eu não sei prepapar uma lasanha como ela, mas ela não sabe pilotar a churrasqueira como eu !
Eu nunca soube colocar vocês pra dormir, mas comigo vocês aprenderam a tomar banho rápido, sem reclamar...
A soma de nós dois monta o mundo que vocês receberam, e todos nós nos completamos.
Nossa família deve aproveitar este nosso universo enquanto temos os dois presentes.
Não que mais tarde, o dia que um de nós partir, este mundo vá desmoronar, claro que não vai...
Novamente teremos que aprender e nos adaptar para buscar sempre fazer o melhor.
Então filho, se esforce para ser sempre tolerante, principalmente com quem dedica o precioso tempo da vida, a você e ao próximo.
As pessoas sempre se esquecerão do que você lhes fez, ou do que lhes disse...
... Mas nunca esquecerão o modo pelo qual você as fez se sentir."
Texto adaptado de um Anônimo
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